Em meio ao caos em que se encontra a política, reflexões e propostas de soluções tendem a pairar sobre a sociedade. Afinal, o que fazer diante de tantos casos de corrupção, políticos fajutos, calamidades que assolam a sociedade, falta de investimentos em áreas básicas para a população, entre tantos outros problemas? Talvez, a resposta para essa pergunta esteja na raiz da questão: a definição de política e do fazer político. Há uma grande diferença entre aqueles que nasceram para abdicar de seus ideais e objetivos próprios em prol do bem-estar coletivo e entre aqueles oportunistas que fazem da política um meio de enriquecimento individual.
Mas, a pergunta de hoje é a seguinte: ser político é vocação ou preparação? E porque é tão difícil discernir tal ação?
Max Weber, sociólogo alemão, assinalou que os políticos vivem “de” e “para” a política e que ela é não só uma vocação, mas também uma profissão. Uma vez entrando na política, são raros os que dela se afastam. Essa situação não existia na democracia ateniense. A regra era o sorteio, e não a eleição dos cidadãos, havia uma rotação de funções e as responsabilidades passavam de um cidadão para outro. Em alguns países essa situação ainda existe. Na Suécia, por exemplo, a renovação é de 40% e muitos dos que entram para a política depois retornam a suas atividades privadas.
Voltando para a nossa triste realidade, não surpreende que nas pesquisas de opinião pública aqui realizadas nos últimos anos seja justamente a classe política o grupo menos considerado pela sociedade. Há uma crise de representatividade. O grito das ruas é eloquente: “Eles não me representam”.
Há um apego aos mandatos porque a profissão política oferece vantagem material e retribuição simbólica (sem falar narcisista) de grandeza, autoestima, capacidade de sedução e do “sabe com quem está falando”… O índice de renovação nas eleições proporcionais para o Congresso é muito baixo, embora esteja crescendo (43% no último pleito). A longa presença dos políticos na vida pública, com sucessivos mandatos (há mais de 15 deputados com mais de seis mandatos e alguns com mais de 30 anos na Câmara), torna-se regra, agora ampliada pela eleição de membros da mesma família (mulheres, filhos e outros parentes).
É consenso nacional que a política brasileira tem baixo conceito e quase nenhuma credibilidade junto à sociedade. Não precisa ser cientista político para perceber, basta ser um cidadão atento e razoavelmente informado. A questão é: por que isso é assim há tanto tempo e não muda? Acredito que em parte se deve à legislação (por isso a reforma política é pauta permanente) e também pela deterioração do sistema e do caráter da maioria que entra na vida pública. Política, no Brasil, é sinônimo de carreirismo, de profissão. Disso decorre boa parte dos problemas que afetam a própria política e ricochetam no país, na população.
A grande maioria dos políticos é formada de carreiristas de pouco espírito público e muito de interesse pessoal. Quem entra prova o gosto do poder e das regalias e não sai mais. E para permanecer faz todos os esforços possíveis, até alguns nada decentes, como temos visto. Assim se formam os caciques, donos de partidos, influentes em qualquer governo.
Voltando ao Brasil, a pergunta é: por que os políticos se perpetuam nos governos ou nos legislativos? A resposta mais simples, e correta, é: 1) Nos governos, pela sedução que o poder exerce, altos salários, mordomias e o exercício da influência em proveito pessoal. Sempre que alguém é convidado para cargo executivo acaba transformando esse cargo em profissão, dificilmente o deixará; se muda o governo muda junto, se não puder continuar no federal vai para uma estatal ou para um governo estadual. Isso se não usar o cargo público como trampolim para se eleger deputado ou senador; 2) No legislativo (municipal, estadual e federal) há uma prerrogativa legal, o estatuto da reeleição, o parlamentar pode se reeleger quantas vezes quiser. Aí, caberia ao eleitor ter discernimento e capacidade de avaliar os candidatos, mas exigir isso seria exigir demais.
