Por Álef Mendes

A fonte foi encontrada e transcrita pelo araçagiense João Batista Benicio de Andrade

 

A escravização de pessoas negras no Brasil, conforme a historiografia mais aceita, teria iniciado no ano de 1538, com os primeiros africanos escravizados sendo trazidos forçosamente para a Bahia. Até o ano de 1888, o povo negro no país era escravizado, por causa da cor da sua pele, o que posteriormente embasou um estigma social em contrariedade à população negra brasileira. Percepção que culminou no racismo estrutural e suas demais variações na atualidade. 

A localidade de Araçagi não estava desconectada dessa realidade histórica, que durou cerca de 350 anos, como sistema de mão de obra e produção escravista do Brasil escravocrata; sociedade que legalmente teria sido abolida em 1888 com a abolição da escravatura, porém os seus resquícios permanecem até a contemporaneidade, principalmente, exposta com as desigualdades sociais e o racismo na sociedade.

A seguir temos a transcrição de uma fonte achada, a qual relata um batismo católico de um bebê escravizado por nome Thomas e a menção de sua mãe por nome Francisca, os quais pertenciam como escravizados de um senhor de pessoas escravizadas da época, possivelmente, assentado na região da cidade de Araçagi, denominado de Felipe Pinto. Vejamos o manuscrito em transcrição a seguir, o qual veio de arcabouço religioso.  

 

Transcrição: 

“Aos vinte nove dias do mês de Septembro de mil oitocentos e trinta e sete, na Capella da Povoação de Araçagi, Filial a Matriz de Mamanguape por santos olhos, baptizou de licença do vigário interino (…) D’Olanda Cavalcante o Padre Luis Lopes Madeira ao Párvulo Thomas, pardo, de idade de três mezes, filho natural de Francisca, ambos escravos de Felipe Pinto sendo padrinhos Manoel Gonçalves de Oliveira e sua mulher Antônia Maria da Conceição. De que mandei fazer este termo em que me assigno.”

José Persina D’Aráujo

        Vigário

 

O texto diz que no dia 9, do mês de setembro de 1837, ou seja, a 187 anos atrás, na “Capella” da Povoação de Araçagi, possivelmente, em local diferente de onde hoje é a atual Igreja Matriz araçagiense. “Capella” que estava filiada a Igreja Matriz de Mamanguape (antiga Monte-Mor).

O vigário que estava interinamente no cargo, por nome D´Olanda Cavalcante, por intermédio do o Padre Luis Lopes Madeira teria batizado uma criança de três meses de idade, por nome Thomas, de cor parda (algo bem explícito no texto; pessoas desta cor eram consideradas negras e, por isso, eram escravizadas). Este era filho do ventre de Francisca, os quais eram escravizados pertencentes a Felipe Pinto. Os padrinhos do batismo teriam sido Manoel Gonçalves de Oliveira e sua mulher Antônia Maria da Conceição. E o termo foi realizado a mandado e assinado pelo vigário José Persina D’Aráujo. 

Desse modo, a partir desta fonte e das demais encontradas, podemos inferir que a escravização de pessoas por causa da cor da pele negra, foi uma realidade na Povoação de Araçagi do século XIX. Nesse caso, a história araçagiense esteve interligada a realidades internacionais, nacionais e regionais, como foi o sistema escravocrata brasileiro. “A História de Araçagi que não veio da tribo Gi”, é imensa e interligada a história mundial, como a do tráfico e escravização de pessoas africanas e de seus descendentes. 

 

Créditos da fonte a João Batista Benicio de Andrade que é graduado em Geografia pela UEPB

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