No dia 15 de novembro é celebrada a Proclamação da República, evento ocorrido em 1889. Hoje, diversos historiadores concordam que o processo pode ser entendido como um ‘golpe de Estado’.

‘Proclamação da República’, quadro de Benedito Calixto (1893) Imagem: Wikimedia Commons

Por que a Proclamação da República foi um golpe de Estado? Velocidade e militares.

Podemos considerar a Proclamação da República como um golpe de Estado por conta da velocidade, da atuação militar e da movimentação contra um poder constituído. Esta é a avaliação de Wesley Santana, professor de História da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Um golpe de Estado é um movimento brusco, rápido, em que um poder legitimamente constituído é retirado por uma outra força. A Proclamação da República não foi um movimento revolucionário, Dom Pedro II foi retirado à força do seu cargo”.

– Wesley Santana, professor de História da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

‘Sem povo’.

Também é possível considerar a ausência da participação popular como um dos indicativos de que a instauração da República no Brasil aconteceu por meio de um movimento golpista.

Debate estava em alta

Apesar disso, a professora de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Heloísa Starling, afirma que o debate sobre o republicanismo estava em alta no Brasil e, portanto, a população não foi pega de surpresa em novembro de 1889.

“O debate já era vigente e importante, com o traço mais avançado do republicanismo em alguns setores, ligado ao bem comum e à ideia de que a República traria um conceito novo de cidadania”.

– Heloísa Starling, professora de História da UFMG.

Por que durante tanto tempo não foi considerado um golpe?

Passado conveniente. Heloísa Starling explica que, ao retirar a ideia de que a Proclamação da República foi fruto de um movimento golpista, criou-se uma interpretação “conveniente” do passado.

Autoritário. Segundo ela, classificar o movimento como um golpe daria a ele um viés “muito autoritário” que poderia atrapalhar a República.

Sem revolução. Para Wesley Santana, o termo golpe de Estado adquire um tom negativo, mas também, não se pode considerar a Proclamação como um movimento revolucionário.

Uma revolução é uma mudança em que você tem uma parte do poder com apoio popular e com o intuito de uma transformação estrutural na sociedade, não apenas tirar um governante para colocar outro no lugar
Wesley Santana, historiador

O que aconteceu para mudar essa visão?

Golpe em debate. Nos últimos anos, as discussões sobre o que pode ser considerado um golpe de Estado voltaram a tomar conta do debate político no Brasil.

Perguntas do presente. Para Heloísa Starling, isso teria ajudado na leitura do ‘golpismo’ da Proclamação da República. “Visitamos o passado com as perguntas do presente”, afirma a historiadora.

O que muda em considerar a Proclamação da República um golpe de Estado?

Militares na política. A mudança na perspectiva pode servir como um alerta para a forte presença dos militares na vida política brasileira.

“Os militares passaram a ser atores centrais nos acontecimentos políticos da República, e estiveram presentes em vários outros golpes, e mesmo em tentativas de golpe que não se concretizaram”.

– Paulo Cruz Terra, professor de História da UFF (Universidade Federal Fluminense).

Democracia mais forte. Além disso, analisar o começo do governo republicano no Brasil como um golpe pode trazer o debate sobre como fortalecer a democracia no país.

“A democracia se sustenta em dois princípios, a liberdade e a igualdade. Quando você lida com uma República autoritária, você corta a ideia de participação popular e de tornar cidadãos todos os brasileiros e torna a cidadania estreita”

– Heloísa Starling, professora de História da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)

Como foi a Proclamação da República?
Queda do Império. Nesta data, há 134 anos, tropas do exército foram responsáveis por destituir o então imperador brasileiro, Pedro II. O ato pôs fim ao governo imperial brasileiro que vigorou desde a Independência, em 1822.

Militares elegem Deodoro. A Proclamação da República foi realizada essencialmente por militares, que elegeram o Marechal Deodoro da Fonseca como o primeiro presidente do Brasil.

Império em crise. Às vésperas da Proclamação da República, o governo de Dom Pedro II enfrentava uma série de crises, que desgastavam a monarquia brasileira.

Abandonado pela elite. O fim da escravidão deixou o imperador sem apoio das elites cafeicultoras (o café era o principal produto econômico do país na época).

Guerra fortaleceu Exército. Após o fim da Guerra do Paraguai, os militares se fortalecerem e passarem a exigir uma maior participação nas decisões políticas do país.

República Velha. A proclamação deu início ao período conhecido pela historiografia como ‘República Velha’ – que vai até a Revolução de 1930, quando foi inaugurada a Era Vargas.

Fonte: educacao.uol.com.br

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