Ainda sob os efeitos da pandemia de Covid-19, tanto na saúde quanto no abastecimento de mercadorias, cidades do país enfrentam falta de medicamentos.
Segundo o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), uma ausência é comum a todos os estados: da dipirona monoidratada 500mg injetável.
O remédio é um dos mais utilizados na rede de saúde, indicado para o tratamento de dor e febre.
O problema foi comunicado ao Ministério da Saúde há mais de um mês e o conselho ainda aguarda uma resposta. A CNN também procurou a pasta, mas não obteve retorno até o momento.
No Rio de Janeiro, nesta semana, o Conselho dos Secretários Municipais de Saúde (Cosems-RJ) lançou um alerta sobre a falta de remédios injetáveis e de soro fisiológico. “O drama do desabastecimento de medicamentos voltou a assombrar os gestores de saúde de todo o país”, diz a publicação.
Em uma consulta a entidades e secretarias do país, o Cosems-RJ aponta a dificuldade em relação a vários itens.
“A rede hospitalar já contabiliza, em muitas cidades, a ausência de até 134 itens como por exemplo, o micofenolato, para prevenir rejeição em transplante de órgãos; a alfaepoetina, que combate anemia; e o ribavirina, empregado contra a hepatite C. Mais recentemente, foi a vez das farmácias do setor privado denunciarem faltas como antibióticos, medicamentos usados, por exemplo, para tratar pneumonia, otite e amigdalite”, divulgou o órgão.
A Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro afirmou que a falta desses remédios é um problema mundial e que realmente enfrenta dificuldades na aquisição de alguns itens, mas que, por enquanto, tem estoque, sem problemas nos atendimentos.
A dificuldade de aquisição não afeta somente a rede pública, mas também a privada, como confirmou Graccho Alvim, diretor da Associação dos Hospitais do Estado do Rio de Janeiro.
“Realmente, alguns estão em falta e outros muito difíceis de se conseguir, inclusive para o público em geral, até para quem precisa de alguns tipos de antibióticos e medicamentos de uso comum. Acho que a Covid, logo depois a epidemia de influenza e a Ômicron causaram uma utilização muito maior desses antibióticos do que a indústria esperava”, colocou.
Nos hospitais, segundo Alvim, há dificuldade em se obter pré-anestésicos e antibióticos. Para uso pediátrico, há falta de amoxicilina, usada para tratamento de infecções bacterianas, inclusive em farmácias – situação relatada pelo Cosems-RJ e por Alvim.
Já a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), que representa as grandes redes, diz não registrar o problema.
Pessoas ouvidas pela CNN no Rio de Janeiro relataram que tiveram problemas para adquirir, em farmácias, alguns antibióticos, como o Clavulin infantil e o Novamox.
O Clavulin é usado principalmente para o tratamento de infecções bacterianas nas vias respiratórias superiores, como ouvido, nariz e garganta (em especial sinusite, otite média e amigdalite) e infecções como bronquite crônica e broncopneumonia.
O Novamox também é ministrado para combater infecções bacterianas.
Enquanto o problema segue, os médicos tentam encontrar outros itens que substituam a função.
“A indústria dá sinais que isso vai se normalizar em um, dois meses, mas é um problema muito sério para a população em geral. Além da inflação, com os medicamentos mais caros, ainda existe a falta”, colocou.
Vale lembrar que os produtos farmacêuticos subiram 6,13% no mês de abril, segundo dados do IBGE.
No caso da dipirona, fontes ouvidas pela CNN apontam que há uma dificuldade para compra.
A principal empresa farmacêutica que produz o remédio, responsável por quase 60% da produção da dipirona hoje no Brasil, anunciou uma pausa nas operações por questões de mercado e parou de distribuir o remédio para as redes pública e privada.
A Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi) aponta que o Brasil ainda sente os efeitos da pandemia na logística.
O presidente da entidade, Norberto Prestes, destaca que o lockdown na China voltou a gerar instabilidade. “A logística está bem complicada na China para trazer qualquer insumo em geral ou medicamento”, apontou.
Em São Paulo, desde o mês passado, o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios, representante da rede privada, relata a falta de medicamentos, especialmente de dipirona, ocitocina, neostigmina, aminoglicosídeos e imunoglobulina.
“O problema de abastecimento tem múltiplas causas, sendo a principal o conflito Rússia X Ucrânia, que dificultou as importações e causou aumento dos preços dos insumos. Soma-se ainda a dificuldade de liberação dos produtos nos portos e aeroportos devido a movimentos grevistas”, disse o médico Francisco Balestrin, presidente do SindHosp.
A CNN também procurou o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). O órgão confirmou que o abastecimento de alguns itens está irregular e verificou a necessidade de cuidados em torno da questão. Segundo o Conass, o Ministério da Saúde sinalizou que já está tomando providências internas para sanar os problemas.
Procurado, o Ministério da Saúde afirmou que “trabalha sem medir esforços, juntamente com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para verificar as causas e articular ações emergenciais para mitigar o desabastecimento dos medicamentos citados”.
CNN Brasil